A ONG Sonhos que Constróem o Futuro promoverá um simpósio no próximo dia 7/4. Nele, aboradará temas como transtorno, tratamento, ritalina e a “robotização” das crianças. O encontro contará com recomendações sobre conduta e orientações psicológicas para pais e educadores, intervenção psicológica entre outros. Os aprendizados serão debatidos e compartilhados pelas doutoras Dra. Lilian Buniak e Dra. Marina Toscano.
Vanessa Tenório na Croácia, onde ela atuou como voluntária em duas ecovilas e visitou uma creche (Reprodução/Voe Nessa)
Cinco anos visitando todos os continentes do mundo, com o objetivo de juntar informações, conhecimento e experiências sobre educação e sustentabilidade. E depois disso tudo? Abrir uma escola brasileira com todas essas inspirações colhidas.
Esse é o plano – que já está sendo executado – de Vanessa Tenório. Ela trabalhou por 22 anos no mundo corporativo e decidiu realmente fazer algo que a completava. Ela quer entender como que o mundo pode melhorar, e colocar isso em prática.
Vanessa conquistou sua independência desde cedo. Começou a trabalhar com 15 anos, se casou aos 18 e se divorciou aos 25. Após todos esses acontecimentos, ela viajou sozinha por 10 anos durante suas férias por toda América do Sul. No entanto, quando voltava para a sua rotina normal, sentia um vazio.
“Então, comecei um processo de auto-conhecimento muito profundo”, afirma Vanessa. “Nesse processo, voltei para o meu primeiro curso de graduação, que foi Letras. Eu atuei um ano e meio como funcionária pública, mas vi que não tinha forças para transformar a educação como quero hoje”.
Depois desse período, ela teve uma motivação principal que despertou a vontade de pôr em prática seu projeto: fazer algo transformador no mundo, especialmente para as pessoas que não têm condições financeiras para pagar uma boa educação.
Apesar de todos os questionamentos, da insegurança de largar um emprego estável, de deixar a sua família no Brasil e outros obstáculos, Vanessa entendeu que ela precisava priorizar o que gostaria de viver.
Entre dificuldades e descobertas
Vanessa na Dinamarca, na ecovila Friland, onde ela colaborou com um projeto de construção natural durante seis dias (Reprodução/Voe Nessa)
Vanessa seguiu seu plano e já está viajando há 8 meses. Ela desenvolveu um breve planejamento inicial, mas tudo é feito de acordo com a sua vivência e experiências. “A maior dificuldade é quando eu faço a mudança”, conta Vanessa. “Tenho que me adaptar às novas regras do local, cultura, pessoas e lugar. Eu levo uns dois ou três dias de adaptação, e a minha média por país tem sido um mês e meio”.
Além disso, pontes para próximas hospedagens são fundamentais para a viagem. “Meu orçamento é de 20 euros por dia. Mas meu maior custo é com transporte, porque as ecovilas dão roupas de acordo com a estação e me ajudam muito”.
O ponto inicial da viagem foi a Conferência de Ecovilas da Europa, onde ela poderia fazer muitas conexões positivas para o projeto. De março até julho de 2017, época em que aconteceu o evento, Vanessa ficou entre Portugal e Espanha, e conheceu mais de 20 projetos nesse tempo. Na conferência, haviam 650 participantes, o que abriu portas significativas para a sua experiência.
Observadora e participante
Quando Vanessa começa a fazer parte de uma ecovila, há alguns pontos que ela tenta observar com mais clareza. “Tento identificar como os princípios da permacultura são implementados de maneira sustentável e, como também sou colaboradora voluntária, já fiz de tudo”.
Apesar de conhecer inúmeros projetos inspiradores, Vanessa conta que muitas ecovilas ainda não são realmente uma comunidade. “Ainda vi muito individualismo predominando. Algumas pessoas queriam apenas um lugar para ficar no campo, em paz, em casas ecológicas, mas o espírito de comunidade – onde eles celebram junto, com acordos coletivos e boa convivência – ainda não existe. Muitas das ecovilas ainda estão visando lucro e estão dentro do sistema”, ela conta. “Eu saí de um sistema totalmente insatisfeita, e não quero entrar em um novo sistema assim. Quando percebo que não me sinto bem naquele ambiente, que não me sinto confortável, eu saio do lugar”.
Voltar para o Brasil para criar uma escola
Algumas experiências não são tão positivas, mas desistir não é uma opção. “As interações são muito importantes. Conheci muitos projetos que me incentivam, mas a minha maior motivação são as crianças”, ela conta. O foco dela, quando voltar para o Brasil, será o de criar uma filial da Cidade Escola Ayni no Rio de Janeiro.
Além disso, para colher mais informações e se aprofundar no assunto, durante esses dois anos de autoconhecimento antes da sua jornada, Vanessa visitou muitos lugares no Brasil. Ela fez o Gaia em Terra Una, em Minas, e também foi para o festival Gaia 10 anos, em Brasília. Lá, haviam ecovilas de todo o Brasil. “Muita gente que conheci nas ecovilas pelo mundo foi estudar no Brasil”, disse Vanessa. “A primeira delas que conheci, na Espanha, viajou para a América Latina para conhecer mais ecovilas. Aqui na Europa, existe muito a parte técnica. Na América do Sul, eles encontraram a parte natural, que veio dos nossos ancestrais”.
Brasil é referência mundial
Vanessa conta também que o Brasil é uma grande referência mundial, e ela encontrou muito projetos durante a sua jornada que aprenderam com práticas brasileiras. “Na minha primeira experiência com educação, por exemplo, que aconteceu em Portugal, eu vi o Pacheco apresentando um projeto brasileiro, o Âncora.”
Seu objetivo com essa escola é inspirar as pessoas a viverem de uma forma diferente, de uma forma mais natural e sustentável, e, segundo ela, “a melhor maneira de conseguir essa transformação é através da educação”.
A terceira edição do Seminário Internacional de Educação Inhotim, que aconteceu em setembro de 2016. O encontro reuniu profissionais de diversas áreas para falar das “Experiências em Trânsito” na educação. A seleção multicultural dos palestrantes enriqueceu o evento, trazendo vivências e pontos de vista diferentes.
“O Brasil tem tudo o que precisa, mas não percebe”
José Pacheco deu início ao encontro fazendo uma provocação à plateia: “o que vocês querem saber?”. Já percebeu o quanto paramos de fazer perguntas conforme vamos crescendo? Foi essa a reflexão que ele levantou. Porém, a frente ao silêncio do público ainda tímido, acionou o plano B e contou algumas de suas histórias. O professor fundou, em Portugal, a Escola da Ponte, que promove educação humanizada e fora dos padrões tradicionais. Enquanto falava para os participantes do seminário, seu projeto completava 40 anos do outro lado do oceano. E ele estava perdendo essa festa?
“Percebi que a pior coisa é um velho que sabe muito entre um monte de jovens que sabem muito mais”, ele explica. A afirmação é uma justificativa sobre como deixou a Ponte nas mãos de jovens que foram seus alunos. Depois disso, decidiu vir ao Brasil continuar propagando o que aprendeu por lá. O Projeto Âncora, em Cotia (SP), é um dos resultados de sua vinda. A escola, que começou a atuar através da arte há 5 anos, já ajudou muitas crianças e jovens com risco de evasão escolar e em situação de vulnerabilidade social por meio do desenvolvimento de talentos e provou que escola não é apenas um edifício. “Escolas não são prédios, escolas são pessoas”.
O pedagogo defende uma educação que valorize a autonomia do estudante. Pacheco está envolvido em centenas de projetos espalhados pelo Brasil. Sua maior preocupação é que uma educação de qualidade chegue a toda a população, como manda a lei. “Não é um milagre, é técnica também. O Brasil tem tudo o que precisa, mas não percebe. É no Brasil que está a surgir a nova educação do mundo”, defende ele, provocando comoção na plateia.
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“A intervenção urbana existe para nos deslocar”
À tarde, Natacha Costa subiu ao palco para fazer uma verdadeira proeza: apresentar os 19 anos de história da Associação Cidade Escola Aprendiz, que revolucionou o bairro da Vila Madalena, na capital paulista, e inspirou outros tantos bairros a fazer o mesmo. O Aprendiz começou em 1997 a partir da preocupação com dois temas: a escalada da violência em São Paulo e a valorização da adolescência. O grupo desenvolveu projetos para embelezar regiões obscuras do bairro – como o, agora famoso, Beco do Batman – e aproximar as crianças e famílias aos espaços culturais da Vila Madalena.
A Associação passou a trabalhar em todo o bairro, difundindo a ideia de bairro-escola, de uma educação que seja um projeto de sociedade e cidade. Suas ações partiam da valorização do estudante e da ocupação do espaço público. Ela também pressiona o governo para desenvolver políticas públicas. Não demorou para que essa luta fosse mais longe. Ela chegou à defesa da Educação Integral, que ganhou força com a criação do Centro de Referências na Educação Integral.
Dando voz para quem faz
O dia começou com o professor Pacheco dizendo que a escola é feita por pessoas e terminou, justamente, dando voz para essas pessoas. As professoras Liete, Nivia e Gizlaine, que participaram do programa do Inhotim “Descentralizando o acesso”, contaram suas experiências. O programa que levou professoras da escola pública para uma visita guiada ao museu de arte contemporânea e, depois, os alunos. Cada uma mostrou como a visita foi interpretada e utilizada dentro de suas salas de aula e na criação de projetos envolvendo toda a escola. É possível navegar pelos projetos desenvolvidos por essas educadoras no site da rede educativa do Inhotim.
A Revista Pensar Contemporâneo selecionou seis produções audiovisuais que retratam educadores que propõe repensar a educação e convidam para uma reflexão sobre o papel do professor, do aluno e do sistema educacional. Confira:
Quando sinto que já sei
Custeado por meio de financiamento coletivo, o filme registra práticas inovadoras na educação brasileira. Os diretores investigaram iniciativas em oito cidades brasileiras e colheram depoimentos de pais, alunos, educadores e profissionais.
Duração: 78 minutos
Ano de lançamento: 2014 (Brasil)
Direção: Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima
Pro dia nascer feliz
O filme mostra o cotidiano permeado de desigualdade e violência de jovens de quatro escolas públicas brasileiras, em Pernambuco, São Paulo, Duque de Caxias e no Rio de Janeiro.
Duração: 89 minutos
Ano de Lançamento: 2006 (Brasil)
Direção: João Jardim
3. Além da sala de aula
Baseado em fatos, o filme narra a trajetória e os desafios enfrentados por uma professora recém-formada em uma escola temporária para sem-tetos nos Estados Unidos.
Duração: 95 minutos
Ano de lançamento: 2011 (EUA)
Direção: Jeff Bleckner
Sementes do nosso quintal
A infância é o tema central do documentário, que foca no cotidiano da Te-Arte, uma escola infantil inovadora que foca no estímulo da criatividade infantil, e na trajetória da idealizadora Thereza Soares Pagani.
Duração: 115 minutos
Ano de lançamento: 2012 (Brasil)
Direção: Fernanda Heinz Figueiredo
Tarja Branca
Tratado com seriedade, o direito de brincar é o tema deste documentário, que aborda o conceito de “espírito lúdico” e convida para a reflexão do desenvolvimento do homem adulto.
Duração: 80 minutos
Ano de lançamento: 2014 (Brasil)
Direção: Cacau Rhoden
Mitã
Repensar a educação a partir da espiritualidade, da tradição e da cultura da criança se misturam na narrativa, inspirada pelos pensamentos de Fernando Pessoa, Agostinho da Silva e Lydia Hortélio.
Duração: 52 minutos
Ano de lançamento: 2013 (Brasil)
Direção: Lia Mattos e Alexandre Basso